terça-feira, 6 de abril de 2010

PERGUNTE PRA BIL: O processo de assumir

Assumir ou não eis a questão! Este é o dilema de muitos a muito tempo!
Parem só para pensar...Quantos antes de nós passaram por todos os conflitos, anseios, e vontades que muitos ainda passam?
Volte no tempo...
O que seria para uma pessoa assumir ser homossexual em plena Idade Média?...Fogueira na certa!
O que seria para uma pessoa assumir ser homossexual a cerca de duas décadas?...Discrimanação na certa!


As atitudes mudaram, mas a gravidade delas não!






Muitos ainda continuam escondendo, sofrendo e maquiando sua realidade para tentar se adequar a algo que uns e outros consideram certo?


O que é certo nesta vida?


Casar, ter filhos e trair @ companheir@ em aventuras extra conjugais.


Levar @ namorad@ em casa enquanto se encontra com outros para satisfazer o que @ companheir@ não satisfez?


Xingar outro LGBT na rua para manter a pose @os amigo@s e fazer a linha loka na boate enquanto libera tudo que está reprimido?






Julgar quem teve coragem de assumir sua felicidade, sua realidade, sua sexualidade?


Não, isso não é certo!


Cada um no seu momento, cada um com sua coragem, mas todos com respeito e com o direito de viver e deixar viver!









Geminiano de 24 anos gosta de criar, desenhar, estar em contato com cores, design, música e fotografia.

“Amo a arte e o dom de fazê-la.”

Marco Lucius é estudante de comunicação, ilustrador, estagiário da área de criação e um constante usuário de marketing pessoal.



O processo de assumir

Ser ou não ser, eis a questão. Assim como todo processo exige etapas, para “assumir” não seria muito diferente. Na verdade não é nada fácil. Primeiramente precisamos compreender a nós mesmos para depois tentar explicar o que se passa no nosso interior para alguém. 


Desde criança eu sempre tive os meus desejos por homens, mas devido à realidade (ou a falta dela) em que vivemos, eu acreditava que fosse algo errado. Tive algumas relações com mulheres e mesmo não achando algo tão desagradável eu sentia que não era aquele o meu lugar.

Antigamente eu tinha uma visão muito distorcida dos gays e achava que a promiscuidade, o mundo das drogas e o HIV estavam relacionados diretamente com quem tinha essa orientação sexual. Hoje minha visão é completamente aberta, e sei que todas essas coisas existem em todos os meios e que não são problemas exclusivos de homossexuais.

A decisão de assumir a minha orientação veio após a leitura do livro “ O preço de ser diferente”, no qual eu tive uma visão completamente diferente do que eu imaginava ser o homossexualismo. Primeiramente eu contei para as minhas amigas, pois eu sentia que essa era a única coisa implícita na minha vida, mesmo nunca tendo ficado com alguém. Assim que eu terminei de ler o livro, eu entreguei para minha mãe ler e não dei explicação alguma. Somente após o meu primeiro beijo em um homem ( com 21 anos..rs) é que eu contei para minha mãe, e assim que tive meu primeiro namorado contei para toda a família, sem excluir ninguém.

Hoje eu sei que tenho uma família perfeita e que me ama muito, pois mesmo tendo sido uma “bomba” para a família, todos me aceitaram muito bem e estiveram do meu lado quando eu mais precisei.
Em tudo isso a parte mais difícil foi a de me aceitar, mas hoje me aceito e me respeito. Dando valor a mim mesmo eu consigo conquistar também o respeito das pessoas.






Cássio Souza, 28 anos, é pisciano, estudande de farmácia e trabalha na área de turismo.



Gosta de ouvir música, ir ao teatro (principalmente dança), ver o tempo passar, viajar, estar em contato com a natureza, estar com as pessoas de quem gosta, ir ao cinema, mexer com coisas de laboratório e outras coisas.


O processo de assumir

Antes acho que seria interessante saber o que é assumir-se, posso me atrever?

O que é assumir-se? Muitas pessoas ligam ser assumido com ser afeminado (principalmente no mundo virtual). Sempre que me fazem essa pergunta eu costumo retrucar e sempre chego a mesma conclusão:

Você é assumido? = Você é afeminado?

Eu realmente discordo dessa relação. Não julgo que eu seja afeminado, claro que quando a gente está em terreno fértil algumas flores desabrocham, não é verdade? E isso é até natural.

Acho o termo assumir meio inadequado, é como se fôssemos culpados de algo que devêssemos assumir e ser punidos, mas como o termo já está mais que consagrado, não sou eu que vou me opor.

Assumir-se, a meu ver, é estar seguro de si e bem consigo mesmo, fazendo o que se acha certo, mesmo que isso choque as pessoas mais “conservadoras”. Apesar disso, não acho necessário meter a nossa homossexualidade goela abaixo das pessoas e nem estar levantando a todo momento a bandeira do arco-íris ou sair bradando a meio mundo: "EU SOU GAY!"

Então é algo que tem de ser espontâneo, se você se sente a vontade para andar de mãos dadas com seu namorado e ele também se sente, ótimo! Faça-o! E não se importe com os olhares e comentários, se for rebatê-los, não bata boca e tenha argumentos fortes para buscar seus direitos...

Voltando a pergunta.

COMO FOI O SEU PROCESSO DE ASSUMIR?

Muitíssimo natural, aprendi a não me preocupar com a opinião das pessoas acerca de mim. A vida delas não vai ser melhor ou pior dependendo do que eu fizer da minha, é essa a minha filosofia. Nunca menti em casa, nunca criei namoradas fictícias, mas também nunca contei a ninguém por vontade própria. As pessoas que sabem de mim, principalmente em casa, o sabem porque me perguntaram, pergunta “na lata”, resposta “na lata”, acho que a partir do momento que elas se interessaram, por alguma razão, em saber sobre a minha vida, elas se tornaram responsáveis por isso. Acho que essa naturalidade vem também do fato de eu nunca ter tido uma figura paterna presente em casa (meus pais se separam quando eu tinha 1 ano e minha mãe nunca teve outra pessoa, não que eu saiba), imagino que a cobrança de ter namorada seja mais do pai, se não for me corrijam...

Assumir para mim primeiramente e depois para algumas pessoas que se atreveram a perguntar, em casa, por exemplo, teoricamente só os meus irmãos sabem, mas minha mãe não, teoricamente... porque só um completo ingênuo para achar que uma mãe não conhece o próprio filho. Se ela não soube da minha boca é porque nunca perguntou nada diretamente, quando ela perguntar certamente eu direi. Se não o fizer vai continuar sendo o “finja que me engana que eu finjo que acredito”.

Preocupação, medo, receio, não passou absolutamente nada em minha cabeça.

Para mim nunca existiu limiar b.G/ a.G. (before Gay/ after Gay). Acho que já nasci com essa carga que foi se desenvolvendo ao longo do tempo. Mas até que a minha sexualidade aflorasse, não pensava sobre o assunto até porque eu era uma criança nessa época.

Ninguém nem nada obrigou a me assumir. À medida que a gente se sente seguro e dono do próprio nariz não importa muito ser bem visto ou bem quisto por esse pequeno detalhe, eu continuo sendo o homem honesto, correto, amável (quem me conhece não ria! rsrsrsrs), inteligente etc, e não é o fato de ser homossexual que vai anular ou diminuir essas qualidade nem incrementar os defeitos que eu certamente possuo. Acho que essa segurança foi o que fez com que eu sempre fosse bem acolhido (palavra muito bem colocada, pois acho o termo “ser aceito” muito homofóbico, é como se dissessem, “apesar de você ser gay, eu te aceito”. Ninguém nunca se afastou de mim por causa da minha sexualidade, mas se acontecesse eu não faria questão alguma de ter essa pessoa perto, isso só demonstra a sua falta de consideração e respeito.







Ricardo Moura é servidor público e estudante de Direito. Pisciano de 28 anos é casado e adora cozinhar.

O processo de Assumir

Assumir: é um processo doloroso, necessário e extremamente gratificante.

Durante a adolescência me via diferente em relação aos meus irmãos e sentia atração por  garotos, mas também sentia atração por uma amiga. Acredito que a atração por ela era um cultivo de sentimentos positivos, via nela e na sua companhia algo diferente, e esse cultivo me fazia ver sua beleza e ficar atraído.

Com 17 anos fiz terapia justamente por me sentir diferente...Era difícil para mim falar  sobre sexualidade, eu sentia muita dificuldade para conversar sobre o assunto, mas sua visão clínica conseguiu tratar o assunto com naturalidade e ao final do processo eu me sentia a vontade para expor, dizer o que eu gostava e que queria.Sentia necessidade de mostrar o que eu era.

Ela me orientou a contar para algumas pessoas das quais eu me importava. Comecei por minha mãe, contando a ela no dia das mães e posteriormente, em uma reunião familiar fiz um almoço para contar aos parentes. Entre eles haviam primos, tios e tias, minha avó e meus irmãos. A única reação negativa veio justamente do meu irmão mais novo que se levantou e disse não aceitar, que aquilo era palhaçada. Lembro que falei para minha família: “...quem quiser segui-lo a porta está aberta, pois esse personagem eu não vivo mais.” Ele saiu e foi para uma festa com seus amigos, onde acabou por contar-lhes o acontecido. Todos os seus amigos saíram da festa e vieram até minha casa para me apoiar, me parabenizar por minha decisão. Detalhe: todos são heterossexuais.

Como primeira reação, muitos me perguntaram se eu viraria travesti...a família sempre acaba pensado assim. Eu disse que não viraria, e expliquei que meu jeito de ser não mudaria, só que agora eu seria mais verdadeiro. Eu sempre convivi com as pessoas dizendo “O Ricardo é um amor de pessoa, gentil, educado, prestativo, mas ele tem uma coisinha...”. Essa coisinha agora havia sido revelada.

Assumir é um processo de educação. As pessoas não são obrigadas a aceitar o desconhecido com tanta naturalidade como queremos. Elas precisam entender,  pra aceitar e por fim nos respeitar.

Após a reunião contei para todos no cursinho pré vestibular, a historia vazou e muitas pessoas que não eram assumidas vieram me pedir ajuda, saber como foi que tomei aquela decisão, porque, etc. Sempre orientei a procurar ajuda, pois a terapia me ajudou a ter uma identidade, a melhorar a minha qualidade de vida e dos meus sentimentos.

Deste ponto em diante resolvi não esconder mais o que eu era. Meu primeiro emprego foi em um ambiente conservador e na entrevista lembro que uma das donas do local me questionou coisas pessoais que eu respondi, e ao final da entrevista lembro de ter dito: - “Ah, um detalhe importante, eu sou gay!”.Ela me respondeu: - “A sua competência não se mede pela sua sexualidade. Nós precisamos de profissionais independente da sua orientação sexual!”.

Antes de assumir tinha uma visão extremamente negativa dos gays. Minha primeira experiência em um ambiente GLS fiquei chocado em ver dois homens se beijando.Eu tinha meus preconceitos e pra mim foi tudo muito impactante. Mas depois eu vi que isso era eu. Apontar o efeminado, a travesti, por quê? Pra que? Somos todos iguais, cada um tem sua intensidade ao gritar sua postura, mas no fim somos todos iguais.

As pessoas sempre tem tanto medo do apontamento alheio que não vivem. Eu fui o contrário, me assumir foi gratificante porque eu não queria enganar ninguém, arrumar uma namorada, viver de fachada e depois com quarenta anos querer viver o que não vivi... se não tomasse essa postura iria magoar muitas pessoas e seria a “culpa consciente”. Por isso eu busquei forças para contar, me abrir, pra não fazer ninguém sofrer.Cada um sente o momento certo  de se assumir.

Eu censuro pessoas que vivem de uma maneira e aproveitam pra dar suas escapadas(nesse contexto me refiro aos heteros). Sexualidade não é uma aventura, é um norteador de vida, outras coisas como sucesso, bens materiais dentre outros conseguimos mas sexualidade tem que ser definida,para você se mostrar para o mundo. Ter uma relação estável e ter algo extra conjugal pra mim é uma desventura e não uma aventura.

Citando Caetano(meio clichê mas se encaixa perfeitamente)
“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” pra mim essa frase reúne vários aspectos. Você se mostrar dói, mas é gratificante. Hoje eu saio e sou aceito na sociedade. Às vezes não entendido mas, respeitado e pra mim é o que basta..

O armário é um local que serve para guardar nossos sentimentos positivos,negativos desejos, medos ou vulnerabilidades, mas também é um local frio e escuro, solitário e um local do qual eu me libertei e aconselho a quem não consegue conviver dentro deste ambiente a assumirem....Há um mundo cheio de delícias, cheiros, prazeres e coisas a conquistar e você só vai saber se conseguir abrir a porta do armário e passar por ela...






 Uirá Godoi tem 22 anos e é do signo de câncer.


Trabalha como designer de moda e gosta de fotografar e trabalhar em sua área.

O processo de assumir

Assumir foi um pouco turbulento mas não achei difícil.













Paulo Victor, virginiano, 22 anos.



Estuda Relações Internacionais e gosta de sair, ouvir música e estudar línguas estrangeiras.

O processo de assumir


Acho que o processo de assumir nunca é fácil, mas no meu caso tive uma ajuda, não sei se divina ou não. Uma noite depois de um assalto sem saber se acordaria vivo no outro dia facilitou as coisas pois, depois desse dia eu criei coragem pra ser eu mesmo e fazer tudo o que tinha vontade de fazer na vida.

No começo não me assumi realmente porque as únicas pessoas que sabiam eram os meus amigos, também gays. Com o tempo, o conceito da palavra orgulho passou a se mais forte na minha cabeça e no coração e como a maioria das coisas acontece como uma paixão sem pensar e planejar um dia depois de tanto chorar por uma paixão, sem pensar virei para minha mãe e disse que precisávamos conversar e que não podia passar daquela noite. Depois de muitos rodeios e choros eu disse para a minha mãe que tava gostando de um menino, porque dizer que eu era gay era muito forte. Nunca vi três letras doerem tanto, serem tão difíceis de serem pronunciadas.

Bom depois de muito sermão religioso e palavras de carinho e de respeito, não de aceitação, a conversa acabou ali mas não o  assunto...e todas as vezes que o retomávamos minha mãe tentava me provar ou me dizer que eu não estava certo ou que aquilo não estava certo. E a única coisa que eu havia pedido a ela era que na contasse ao meu pai, pois talvez ele não tivesse a mesma compreensão. Um dia, depois de um ano eu creio, não precisei dizer, ele viu. Voltando de mais uma festa, um “amigo” me deixou em casa e como já estava amanhecendo preferimos descansar um pouco no carro. Com as janelas fechadas, fazia calor dentro do carro e logo tiramos a camisa. Isso já foi o suficiente para que meu pai, ao sair de casa para jogar futebol,  ao ver dois homens (seminus) dentro de um carro não necessitasse mais de qualquer explicação e com uma simples frase me fizesse entender o recado: -“ Cuidado pros seus irmão não verem isso.”
Bom, segundo minha mãe depois disso ele ficou muito triste e como já não nos falávamos muito, depois desse dia paramos definitivamente. Estranho para uma pessoa que vive dentro da sua casa, que você vê todos os dias, era como se fosse um fantasma.

Sei que cada pessoa tem uma vida diferente, pais diferentes e trata da sua condição diferentemente, por isso não existe uma fórmula secreta para se assumir, pra que tudo dê certo.  Você tem que pensar e saber dentro de você o que realmente quer e se realmente sente orgulho do que você é talvez a resposta virá mais rápido do que você pensa.






Roberto Raony é universitário, pisciano e tem 23 anos.



Estuda biologia e gosta de muito ler e debater, amar e ser amado, dar presentes e ser presente. Aprecia um bom papo com um leque variado de tipos de pessoas. Dançar, ir ao cinema, reunir-se com os amigos e ler um bom livro também lhe caem bem.


Amante de mato e bichos, incorrigível, gosta de fazer pesquisas em sua área e se aprofundar nos temas que discernem ao comportamento humano em geral.


O processo de assumir

Eu tinha uma leve compreensão da minha sexualidade quando pequeno, mas achava que meu interesse por meninas se tornaria mais claro ao decorrer do tempo. Achava super normal ser o único menino a jogar queimada e não gostar de futebol (eu adoro essa percepção pueril das crianças). O tempo veio, e com ele a certeza de que meu interesse por meninas estava bem claro: eu as queria bem vestidas e longe de mim. Não, não, que isso, brincadeira! Apesar de não as querer longe de mim, meu interesse sexual por elas não despertou. A partir dessa noção, comecei o “processo de assumir”.

A negação talvez seja a primeira fase de muitos. Comigo aconteceu de forma dura, pois minha auto-indulgência falhava miseravelmente ao pensar no assunto “sou um homossexual”. Eu não queria ser diferente. Eu não queria ser discriminado. Eu não queria ser infeliz. Para mim esse era o único destino que um homossexual tinha, ou talvez ele poderia ser um feliz-resolvido-endinheirado cabeleireiro de celebridades. Só que eu não me encaixava nisso. Eu me via como mais um sendo apontado na rua, e pensava “O que vão pensar de mim?” “As pessoas sentirão desprezo por mim e algumas vão querer me matar!” “Deus vai me matar quando eu chegar ao céu!” “Não, com certeza meus pais me matam antes...”. Meus pais. Como encarar meus pais? Como carregar o peso de não trazer netinhos para o meu pai e uma nora para minha mãe falar mal? Eu tinha certeza de que não aceitariam minha condição. Eu sofria muito. Eu não havia pedido para ser gay, muito menos escolhido ser assim. Achei por muito tempo que a melhor forma era ignorar esses pensamentos, mas depois de um tempo percebi que não havia como eu separar minha sexualidade de mim. Era como correr da minha própria sombra, e essa sombra era carregada com os maiores sentimentos de medo e rejeição.

Depois de desistir de lutar contra mim mesmo, numa batalha que tava um saco e doía muito, decidi aceitar que eu era gay. Isso não é assumir, ok gatinha? O processo para se assumir é um parto, e nessa altura da história estou no sétimo mês. E, como uma grávida, estava cheio que nem uma porca (lá vem mais uma analogia). Cheio de dúvidas, medo e, por que não, preconceito!! Entenda-se que eu era um homossexual muito macho, que nunca daria pinta de homossexual e que não queria contato com pessoas do meio que manchariam minha imagem (eu adoro essa percepção pueril dos homossexuais incubados). Passado algum tempo, uma feliz coincidência (ou não) mudou meu destino dentro do armário: todos meus queridos amigos heteros se revelaram meus queridos amigos homos. Um a um foram se assumindo e eu me vi cercado por pessoas iguais á mim, com os mesmos problemas e que se importavam comigo. Veio a temida parte final: se assumir.

Decidi antes de contar ao mundo (ou confirmar o que sempre pensaram) que eu deveria contar aos meus pais. Assim o fiz. Decidi encarar a pior fera primeiro, o general do quartel, meu pai. Ele ficou muito chocado, mas conseguiu dizer “Você sabe que vai sofrer preconceito lá fora né?” Ao passo que eu respondi “Sei sim pai, só não aceito sofrer preconceito aqui dentro”. Sei, sei, bem cena da novela das nove inclinada ao drama. Senti um peso tremendo saindo das minhas costas. Pelo menos no meu caso resolveu boa parte das minhas inquietações, e me senti preparado para encarar o mundo. Hoje não são todos os que sabem, mas eu não escondo mais. Não vou sair por aí jogando minha sexualidade pros quatro cantos, mas não nego se me perguntarem. Coisa minha mesmo. Depois de algum tempo meu preconceito com o mundo gls caiu por terra. Comecei a ver as coisas por ângulos diferentes. Deixei de sentir vergonha de mim para sentir vergonha por aqueles que mantinham seus agourentos preconceitos contra pessoas do meu meio. E, quem diria, um dia eu ia me sentir parte do mundo gls, ou, agora que o compreendo melhor, GLBTTS!!







Rick Hudson, 23 anos, ariano.



Arquiteto, fashionista, blogueiro, artista e não-alienado!
Adora baladas, música e vertentes da área de criação. Ama sua natureza, seus amigos e família.


“Uma opinião bem fundamentada é o seu maior legado”

O processo de assumir

Ai gente, posso dizer com todas as três letras...É UÓ!

Desde moleque me sentia diferente. Olhar para uma mulher era algo que não me incomodava, mas olhar para um homem era algo que mexia comigo. Claro que nessa altura eu ainda era uma criancinha.

Passei a infância e adolescência cercado dos mais variados apelidos, afora os mais comuns - bichinha, maricas, florzinha e blábláblá - eu tinha outra enciclopédia que ganhava em cada lugar que eu ia - Gueron, Gueroba, Tuti Fruti, Clodô, Mariquinha, Qualira e mais outros cem blábláblá...Nem preciso dizer como eles me irritavam e me faziam chorar. Sempre que caía aos prantos ao invés de consolo vinha mais um apelido - manteiga derretida.

Passei por uma adolescência tímida e comportada, onde felizmente pude me dedicar aos meus estudos. Sempre fui muito inteligente, da turminha dos CDFs. Estudar era um meio que encontrava de me desligar das coisas. Entretanto, passando pelos desencantos que passei, aprendi a me defender, e adivinhem só com o que? Com a palavra. Acredite quem quiser, mas esta coisinha tem um poder que poucos imaginam.

A convivência com meus irmãos me ajudou a despertar esse lado mais "Não mexe comigo", principalmente com minha irmã mais velha. Ela sempre teve uma língua que acredito, me inspirou. Claro que as piadinhas nunca pararam de surgir, mas eu havia encontrado um meio de destruí-las com muito estilo, usando minha inteligência e deixando que cada um visse por si a burrice que cometia com suas atitudes preconceituosas.

Perto de completar 17 anos, eu não me aguentava mais dentro de mim. Não tinha com quem dividir minhas angústias. Sabia que não ficaria viveria com uma mulher por me atrair, mas sabia também que não ficaria com um homem por ser errado. é incrível a ignorância na qual nos metemos por conta dos nossos medos. Vocês acreditam se eu disser que na minha cabeça eu pensava que poderia viver minha vida sozinho? Sem relacionamentos, sem amores, sem filhos, sem história? Hoje eu rio muito disso, mas parem e pensem!!

É muito cruel para uma criança ou um adolescente que sequer começou a experimentar a vida submeter-se a pensar que pode ficar só, e não por sua vontade, mas pela vontade de uma sociedade preconceituosa!

Mentir, enganar, distorcer eram coisas comuns no meu dia-a dia para manter as aparências dentro e fora de casa. Perto dos 18 eu já havia começado a frequentar o meio LGBT com alguns amigos, mas me corroía viver toda aquela mentira que eu estava vivendo. Foi então que eu vi a luz...kkkkk...aloka....

Nessa época aconteceu a Parada do Orgulho LGBT em Brasília. Foi minha primeira Parada e com certeza o catalizador da minha decisão de assumir. Gente, até algum tempo atrás eu vivia a ilusão de que haviam algumas dezenas de gays por aí: eu e aqueles que eu via na televisão. Sempre me proibi pensar a respeito e por conta disso minha micro mente me fez acreditar que para ser gay eu precisava necessariamente vestir roupa de mulher e ser efeminado.

Na Parada eu literalmente fiquei de boca aberta! Não acreditei na quantidade de pessoas que estavam ali: gordos, magros, feios, bonitos, altos, baixos, ricos, pobres. Se eram 20 mil em Brasília, quantos não seriam no Brasil, no mundo? Me aceitei! Vi que era normal, que era vivenciável, que era o que eu queria!

Pouco tempo depois resolvi contar para minha mãe. Nunca pensei que fosse procurar tantas maneiras para dizer algo tão simples. Chorei, respirei, levantei e chamei minha mãe. Por tudo que já vinha acontecendo tão intensamente naqueles últimos meses e claro, pela minha cara de choro, mamys logo percebeu o que estava por vir.

Falei...

Costumo dizer que existe um roteiro que acontece com a maioria daqueles que contam. Até hoje não errei.
No dia em que se conta, o clima fica pesado, tenso.
Na primeira semana a coisa piora. Acredito que os pais param para refletir e ficar se perguntando o que está acontecendo.
Até o fim do primeiro mês, a tensão vai diminuindo.
Daí para frente, tudo é muito delicado, são altos e baixos, alegrias e choros, carinhos e acusações.

Isso sim é o ápice do processo de assumir, e claro é o que demora mais: explicar, mostrar e desmistificar conceitos e preconceitos que emporcalham a cultura LGBT para o mundo.

Mamys chorou, disse que me mandaria para fora do país, culpou meus amigos, disse que me levaria ao psicólogo, perguntou onde foi que ela havia errado, entre outros coisas. Claro que ela tentou me convencer de que eu estava errado, de que era uma fase, que ia passar. Usou todos os recursos: desde aquela menininha que fez um par tão lindinho comigo na minha primeira festinha junina, até os clássicos "Você quer me matar?" "Vou morrer de desgosto!", "Seu pai não pode nem sonhar!"

Novamente usei o que tinha de melhor: a palavra! Eu estava ciente da minha atitude, já havia pensado muito em como minha decisão iria abalar minha vida. Sabia o que eu enfrentaria, ou pelo menos tinha noção. Estava preparado para encarar! Melhor ser apontado por algo que fiz, do por algo que não fiz!

Acredito que o mais importante de tudo antes de pensar em se assumir, é ter certeza de sua postura, de suas qualidades e seus defeitos. Não vá pensando que você vai contar e as pessoas simplesmente vão entender. Muitos irão, mas muito não!

E o processo não parou e nem vai parar por aí, mas com certeza você vai se fortalecendo no caminho.Nada melhor como um dia após o outro para você se conhecer, se respeitar e se aceitar.

Saí do armário a 5 anos e posso dizer que hoje eu vivo minha vida intensamente. Ainda enfrento preconceitos diariamente, mas não tenho medo de lutar. Não tenho medo de dizer e estudar o que me interessa, não tenho medo de olhar alguém bonito na rua. Não tenho medo de me cuidar esteticamente. Não preciso me enganar , nem enganar outras pessoas. Não preciso mais sair de fininho da sala quando passa uma piadinha sobre gays. Vou a Paradas Gays pelo Brasil a fora gritar minha felicidade. Faço o que gosto com prazer. Amo meus amigos LGBT e meu amigos HTs, minha família e sobretudo minha existência.







2 comentários:

  1. nossaaaaaaaaaaaaaaa gostei muito mais muito mesmo de todas histórias!!! me emocionei demiasssssssssss, digno do final de páginas da vida heheheheheheheh
    parabéns a todos, admiro todos por decidirem viver e serem felizes com suas verdades!!!
    bjs =***

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  2. obrigado por dividir suas histórias. me identificando um pouco com cada uma

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