SEXUALIDADE: "Sou um cara bem másculo mais passivo..."

Olhe bem essa foto! Acho que como muitos que a observam por muito tempo, a pergunta clássica sempre vem à tona: "Quem dá pra quem?"

Não, não se sinta intrometido, indiscreto, promíscuo... Isso passa se não for pela cabeça de todos, pelo menos pela cabeça da maioria das pessoas!Existe essa necessidade em definir quem é o que na relação e ainda há aqueles que se julgam no direito de pensar: "Ah não, essa morta de mulher comendo aquele boy tudo... Ai nem!"

Isso tudo ai foi só pra introduzir um assunto que há muito me intriga e que hoje teve o seu cabum por conta dessa frase título. Estava eu em um site de relacionamentos lendo os perfis dos usuários (coisa que faço sempre... você acha cada descrição). Dentre as mais variadas formas de:

"Não curto gordos nem afetados",

"Sou discreto(com uma foto do edy todo aberto)" e

"Quero conheser pesoas intelijentes ",

minha busca me levou até um perfil bem interessante, que iniciava assim:

"Sou um cara bem másculo mais passivo..."

Parei por ai!Nem continuei. Li de novo e de novo. Queria que fosse um erro na utilização da conjunção “mas”. Entretanto pelo que fui vendo entendi que ele não queria informar aos interessados que era mais passivo do que ativo, e sim que ele era másculo PORÉM passivo.

Independente do que ele quis dizer, o bom foi que achei aí motivo pra escrever. Sendo ele ou não um dos adeptos da teoria de que passivos precisam ser efeminados, exercer o papel que muitas mulheres exercem nos relacionamento heterossexuais, eu resolvi escrever.

Uma das coisas que sempre me fizeram pensar depois que saí do armário foi justamente que o mesmo preconceito que os heteros tem quando o assunto é o querido edy, se reflete no meio LGBT. Muitos morrem de medo de dizer que fazem sim sexo anal e mais ainda de se assumirem exclusivamente passivos. Ai surgem aquelas velhas piadinhas... "Fui lá ficar com boy e na hora “H” ele vira e diz que quer me dar, aff!". Simplesmente porque muitos tentam manter a pose macho, ativo, másculo a todo custo e entre quatro paredes....Ah, meus queridos, entre quatro paredes prevalece a frase "Se eu não lembro eu não fiz".

Agora me respondam qual é a necessidade de se envergonhar por transar? Porque na minha opinião tudo se resume ao sexo, que muitos definem como a melhor coisa do mundo. Então porque? Pra que? Já pensei, perguntei, e acho que cheguei a algumas conclusões: a vida inteira crescemos sempre ouvindo, vendo e escutando situações onde o machismo impera:

"Meninos = Azul, Meninas = Rosa!",

"Carrinhos pra meninos e boneca pra meninas",

"Ô seu viado"(usando o termo como xingamento)",

“Assunto bom é futebol, carro e mulher"

Cada um tem suas experiências particulares, mas no fim todos passam por elas. Outra coisa que acontece muito é a falta de diálogo quando o assunto é sexo. Queremos nos mostrar maduros quanto ao assunto, mas ele continua sendo um tabu, e muitos sabem o que sabem não por compartilhar experiências, mas por terem ido lá e feito acertando ou não. No meio LGBT a discussão sobre sexo é relativamente comum, falamos disso mais abertamente sem tantos medos e receios (daí sermos intitulados promíscuos, pelo simples fato de discutirmos algo que todos deveriam discutir). Porém quando o assunto são os tabus desse tema novamente hesitamos.

Mas dá para entender, pois concordando que no meio HT (hetero) isso já é difícil, o que dizer do meio LGBT? Quase não ouço histórias de pessoas que se assumiram aos 10, 12 anos de idade, onde começam as experiências. O que mais vejo é que a maioria só vem a se aceitar como LGBT dos 18 pra frente. Ai já se acham especialistas no assunto e carregam o mesmo hábito de não querer conversar, somente praticar. Tudo é motivo de vergonha: o que se fala na hora do sexo, em quais posições pratica-se, fetiches e fantasias, e claro o dilema PASSIVO X ATIVO.

Lembro de uma citação que nossa querida Silvetty Montilla fez em uma visita à Brasília. Em um de seus shows hilários ela convidou um rapaz muito bonito por sinal, para ir ao palco e em suas perguntas nada discretas ouviu o cara dizer sem hesitar que era passivo. Lembro que ela deu uma rápida parada, brincou com o rapaz e ao terminar soltou uma célebre frase: "Olha gente, quem te viu quem te vê Brasília! Há uns anos atrás o povo morria pra falar que dava o cú. Que delícia né?" E ficou por ai, quem entendeu o recado entendeu, e quem não entendeu riu do mesmo jeito.

Sendo assim, vamos refletir? Qual é a porra do problemas em dar ou não o cú? O que seriam dos ativos sem os passivos? Pra que colocar mais estereótipos do que os que já recebemos? Porque pensar que ativos são os mais altos, mais fortes, mais sérios, enquanto os passivos são os delicados, baixinhos, indefesos? E mais importante, pra que continuar essa cultura de preconceito dentro de um meio que é formado por quem o sofre diariamente?

Gente, o importante não é quem mete, como mete, o que se mete, mas sim se tudo isso junto ou não proporciona prazer para os dois, três, quatro, ..., setenta e cinco e por ai vai. Fazer sexo é bom e isso todos sabem. Quem não sabe ainda vai saber e quem não quer saber não sabe o que ta perdendo. Existe muita coisa pra se envergonhar, mas posso dizer que fazer sexo não é uma delas, ainda mais com quem se gosta. E se gostamos a coisa flui sem restrições. E se flui sem restrições ficamos felizes e de bem com a vida. E se nos sentimos assim repassamos bom humor paras outras pessoas. E isso vai sendo repassado. Ai pessoas se conhecem. Se gostam. Saem para conversar. E ai já sabemos no que isso vai dar. E o ciclo recomeça.hehehe